domingo, 6 de dezembro de 2015

Empadas parentes

Tempos atrás estive numa banca de doutorado de uma pessoa querida, Fátima Queiroz. O trabalho, belíssimo, retomava a brincadeira com a pipa para discutir diversos temas na psicologia social. Foi com esse texto que, entre outras coisas, aprendi que existem brinquedos parentes. Explico-me. Segundo a autora da tese, ou melhor, segundo o que me lembro de ter lido na tese, quando um grupo de meninos se reúne em torno da pipa ou quando as pessoas se reúnem num festival de pipas, diversas brincadeiras e brinquedos parentes surgem ao lado do personagem central, a pipa. São brinquedos parentes porque retomam o voo aos céus, o alcance do ar: boomerangues, peões e bolas passam a ter com a pipa uma relação de parentesco porque ocupam junto com ela, o cenário. Desta forma, enquanto uns se divertem com a pipa, outros jogam boomerangues, peões, bolas, pulam corda, sempre lançando ao céu a imaginação e a brincadeira . Não é qualquer brinquedo que é parente do outro. É justo isso que me leva a pensar que existem as empadas parentes. Hoje, como já disse que faço todos os finais de semana (ver aqui), fui comer a minha empada. Logo notei que a esquina onde ficam as personagens centrais são povoadas pelas empadas parentes, que crescem e se multiplicam a cada dia. Assim, ao lado da carrocinha da empada, há um carro com a mala aberta, onde podemos comprar abacaxis docinhos, vindos, segundo nos disse o vendedor, do Espírito Santo. Três abacaxis por 10 reais. Já provei dessa delícia e recomendo a quem por ali passar: são realmente excepcionais! Logo na sequência, um jovem rapaz veste bermudas e um avental azul para vender suas costelas na brasa. Também já provei essa iguaria e na conversa com o vendedor, ele me explicou que as costelas, para ficarem macias e saborosas, precisam cozinhar na brasa, envoltas no alumínio, por 12 horas! 12 horas de preparo! Isso ele faz em casa. Ali na rua, com uma churrasqueira feita numa espécie de galão, ele segue aquecendo e finalizando o cozimento das costelas. São verdadeiras iguarias! Dignas dos mais refinados chefs de cozinha! Já comi desta saborosa carne mais de uma vez. Outro dia mesmo deixei para comprar uma costela por volta das 13horas e tinha acabado! Sim, vendeu tudo, tudinho! Fiquei com água na boca e me guardei para o final de semana seguinte, que ainda não chegou, mas virá, ah virá! Na calçada em frente há uma senhora que vende doces feitos por ela mesma: pudim de leite, bolo de aipim com coco e mais umas outras guloseimas maravilhosas, das quais ainda não provei. Desse modo, a esquina próxima da minha casa vai sendo povoada pelas empadas parentes, tudo é para comer, para o deleite do paladar. Com as empadas parentes as esquinas se enchem de histórias e de vida. Foi assim hoje: mal sentei no banquinho à espera da minha empada, um senhor ao meu lado, com a empada dele na mão, olhou para mim, abriu um sorrisão e me disse cheio de alegria e gula: Tá quentinha! Acabou de sair agora! Que beleza de fala, pensei! Brinquedos parentes, vida, histórias e invenções deliciosas na nossa língua: Acabou de sair agora! Imaginem quão agora foi este agora!! Tá quentinha!!

3 comentários:

  1. Essas poderosas empadas são capazes de aglutinar muita gente nessa confraternização de rua, uma comemoração e bebemoração para celebrar a vida com as iguarias parentes que só você consegue descrever nas suas garatujas do cotidiano. Afinal, brincar e comer é só começar. Deu água na boca! Amei!

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    1. As empadas parentes colorem a esquina, Fátima! Pequenas alegrias no dia a dia. :)

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  2. Eu li esta tese maravilhosa!
    Agora faltam as empadas! 😋

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