quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sra Marcia?

Tenho antipatia por telemarketing, aquele telefonema que te alcança em casa, quando você está de chinelo havaiana no pé, complemente dedicado a estar em casa com o chinelo. A ligação começa sempre do mesmo jeito: Sra. Marcia? Ouço isso e já sei, lá vai mais uma oferta imperdível, revistas, cartões de crédito fantásticos, seguros de vida incríveis para o caso de minha morte ou invalidez, entre outras maravilhas. Foi uma dessas maravilhas que veio ao meu encontro dias atrás, por meio de uma nova modalidade de telemarketing. Atendi o telefone, naquele desaviso que a gente fica quando está em casa e ouço a voz numa vibe super amiga, tipo íntima: Olá! A voz era íntima e estranha, fiquei parada ali. De súbito me dou conta de que era uma máquina, daí o que me parecia estranho era a entonação, que para se assemelhar ao natural, levava o tal do natural ao absurdo, ficando absurdamente artificial. Nenhuma amiga me fala aquele Olá tão feliz, assim do nada, sem mais nem menos. Mas a voz super amiga  continua: estou aqui hoje para lhe oferecer saúde! É, saúde! A voz estava super animada com a oferta que logo me faria. E ela seguia: mas se você não quiser prosseguir na ligação disque o zero! É preciso escrever as falas da voz super amiga  sempre com exclamação porque ela só falava exclamando! Então, até para definir como eu devia desligar o telefone ela exclamava. Pensei, mas que raios, se eu quiser desligar não preciso discar o zero, posso simplesmente desligar o telefone, pois não? Fiquei mais um pouco e a voz me diz: Tome vitaminas! Ora, ora, eu lá quero vitaminas? Capsulas de saúde? Me liga, essa super amiga desconhecida, para me ofertar capsulas de saúde e me dizer como devo desligar o telefone!!! (agora exclamo eu!). Plaft! Desligo o telefone à moda ogro, não quero vitaminas, não quero vitaminas nem ninguém nos meus ouvidos exclamando o tempo todo. Deixo tocar na caixa de som roliça, aquela blutifi de que falei aqui, nosso bom e velho Tim Maia: Não adianta vir com guaraná para mim é chocolate o que eu quero beber, chocolate, eu só quero chocolate, só quero chocolate!!! Foi uma verdadeira libertação, uma libertação daquela estranha voz amiga, da prescrição das cápsulas e das exclamações de intimidade. 

2 comentários:

  1. Hahahahahahahaha. Adorei essa e a das empadas parentes. Precisa e rápida esta narrativa aqui. Uma lindeza, Marcia. Vida longa ao blog. Um beijo.

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  2. Beijos, querido! Qualquer hora dessa vem cá comer as empadas, hoje já comi a minha!

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