domingo, 15 de novembro de 2015

Ai que nojo! Você fez isso?

Ser mãe é mesmo uma delícia e um desafio. Ninguém sabe de antemão como ser mãe, a gente vai sendo, nesse gerúndio esquisito mesmo. Nesse tempo de ser mãe, de cuidar de outra pessoa, há histórias que voltam, ficam, marcam. Pois foi numa dessas voltas do tempo que me lembrei de uma história. Há muito tempo atrás, uma mãe viveu um inesquecível encontro com seu filho. Arrumou o pequeno menino, devia ter uns quatro ou cinco anos, para a aula de natação: touca azul, roupão também azul, sunga e chinelinho havaiana nos pés. O menino era uma graça, branquinho, cabelos castanhos bem claros e inúmeras perguntas na ponta da língua. Era incansável nas perguntas. Ele entra no carro, ajeita-se no banco de trás, sentado numa cadeirinha que já era pequena para ele. A mãe ao volante, olhava o menino pelo retrovisor, divertindo-se com a imagem do filho, aquela figura adorável que com ela partilhava uma vida. Seguiam os dois entre conversas e sorrisos pela manhã que se abria quente e acolhedora. No meio do caminho o menino pergunta: Mãe, eu nasci da sua barriga? E a mãe: Sim, meu amor, da barriga da mamãe. Silêncio. E volta o menino: Mas como foi que entrei aí? Silêncio e uma certeza: aquele menino não desistiria dessa pergunta, nem das muitas outras que se seguiriam. A mãe, intelectual, metida a descolada, do tipo falo-tudo-para-meu-filho, engata uma primeira marcha nas suas respostas e vai em disparada numa fala, digamos assim, científica, objetiva, crua, a explicar com precisão como é que um neném chega na barriga de uma mãe. Tudo dito, tim tim por tim tim. Tem o piru, a perereca, o primeiro entra na segunda, do piru sai um líquido... e por aí foi, a destrambelhada. O menino, que ela olhava pelo retrovisor, estava ouvindo com atenção, aqui e ali fazia mais uma pergunta. Mas como é que o piru entra na perereca?, ele quis saber. E lá vai mãe com seu furor pela objetividade a dar mais e mais explicações, cada vez mais cruas.  O menino ali na cadeirinha, de touca azul, balançava a cabeça sem entender patavinas daquela loucura dita pela mãe que, nessas alturas, já estava quase na bancada de um laboratório de biologia, tamanha a objetividade dos detalhes que dava ao menino. E eis que ao final o menino tira algumas conclusões: Mas, mãe, para fazer isso tudo tem que ficar pelado um com o outro, né? É, diz a mãe meio ruborizada. Silêncio. Apreensão da mãe. E o menino lança as suas derradeiras conclusões: Mas você fez isso, mãe? Hein? Fez? [silêncio] Ai, que nojo, eca, que nojo!!!!!! A mãe, roxa de raiva [dela mesma, é claro] e vergonha, esperneia: Ai que garoto enjoado! Anda, anda, olha aí, vai perder a hora da natação, fica nesse blá blá blá. Garoto enjoado, anda logo! Muito enjoado, eu hein! E lá vai ele, a touca azul, o chinelinho, correndo para a piscina, quem sabe à espera de alguém que lhe conte histórias de cegonhas e de amores!!

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