sábado, 21 de novembro de 2015

Da série bichos em casa: que bolinha de pêlos era aquela?

Numa noite dessas voltávamos para casa eu, o nego e o garoto. A noite estava límpida, fresca e a cigarra cantava alto, anunciando que no dia seguinte faria calor. Seguíamos pelo caminho animados na conversa, falando do dia a dia das nossas vidas. Fui eu quem avistei a bolinha peluda, talvez porque vivo às voltas com esses bichos em casa. Logo falei: olha la, vem uma bolinha peluda correndo em cima do fio de luz! O que será? Um gambá? Olhamos de perto e concluímos que não era um gambá não. Já recebemos essa visita em nossa casa e somos capazes de reconhece-la por aquele focinho comprido, o pêlo eriçado, o rabo enorme. Definitivamente não era um gambá. Não era, claro, um mico, porque micos já são nossos amigos do cotidiano. Vivem por aqui aos bandos, andam pelos fios, pulam nas árvores, fazem barulho e fazem, acima de tudo, muitos outros micos, vivem cheios de filhotes. Penso até que o mais justo seria dizer que moramos numa comunidade de micos, tudo isso aqui é deles, nós somos inquilinos nessa área. Aquela bolinha peluda não era um mico. O interessante daquele enigmático bichinho é que ele andava apressadinho pelo fio, passo após passo, curiosamente sem balançar o fio. Isso mesmo, ele caminhava rapidinho, mas o fio permanecia imóvel. Fosse ele um parente de mico, de gambá ou outro peludo qualquer, uma coisa era certa: era um exímio equilibrista. Dos bons! Nunca antes nesse país um equilibrista dominou com tanta destreza uma corda bamba! Parecia até que para ele a corda não era bamba, era firme como o chão que pisávamos. Ficamos entre encantados e intrigados. Ele passou por nós, quando nos viu deu uma ligeira paradinha, mostrou-se e seguiu apressadinho, sem balançar o fio, mexendo-se como uma bolinha peluda a deslizar sobre um escorrega. O focinho era pequeno, o rabo não tão grande quanto o da gambá. O nego disse que o rabo era o leme, era o que lhe dava equilíbrio no fio. Que sabido o nego! Dos bichos à filosofia e à psicanálise, o nego sabe das coisas. A bolinha equilibrista tinha um leme!  O nego fez até uma comparação: já viu como os equilibristas andam na corda bamba com uma vara na mão? Então, é a vara que cria o centro do equílibrio! A bolinha peluda tem o rabo, por isso se equilibra. Se não tivesse o rabo a bolinha caia no chão, era capaz de se estatelar! Ah, bom! Fiquei feliz de saber que aquela bolinha marrom tinha esse rabo-leme, sábia a natureza que assim o dotou, porque é com esse rabo-leme que ele desfila no fio e nos enche de encantamento! Que bicho era? Isso não sei. Só sei que era uma bolinha marrom, peluda, cheia de graça e de equilibrio e com um rabo-leme!

4 comentários:

  1. Oba....tudo juntinho pra facilitar a leitura!
    Adoro suas histórias.... Compartilho de muitas dessas vivências mas, não tenho o dom da escrita.....então, me vejo e me delicio com a leitura de suas crônicas!!!

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  2. Que bom! Resolvi coloca-las todas juntas por aqui! :)

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  3. ​Marcia,

    Maravilha seu blog. Parabéns.

    Pois é.... A vida deixa marcas na gente né ? Essa bolinha peluda de rabo-leme me marcou muito. Pela sua descrição suponho ser um porco-espinho, parece mesmo com um gambá equilibrista. Certa vez esse bichinho apareceu no terreno lá de casa e atacou meu vira-lata, ou melhor foi minha vira-latinha que atacou ele. Resultado..., minha cadela ficou cheia de espinhos enormes espalhados por toda a cara. Terrível..., mas a vida ensina. Se hoje ela fosse viva pensaria duas vezes antes​​ de atacar esse bichinho peludo de rabo-leme e talvez só sinalizasse.

    Parabéns. Tô curtindo muito seus textos. Leitura muita gostosa.

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    1. Ah que bom saber que meus textos te alcançaram! Já me disseram que a bolinha peluda é um porco-espinho! Aqui em casa nunca recebemos essa visita, ele passa é pelo fio da luz em frente da casa. O porteiro do condomínio me disse que ele desce a rua todos os dias! Que figura, sempre no mesmo horário! Só não sabemos para realizar exatamente que tarefa neste horário! Eis aí um mistério!

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