Na saída do médico, resolvi dar uma volta. Tireóide nos trinks, bora
bater uma coxa por aí. Parei numa loja de capa de celular, tabletes e
afins. Deixei vaguear o olhar. Logo aproximou-se de mim a simpática
vendedora, Luciana. Perguntou meu nome, o tipo do meu celular e do meu
tablete. Ao ouvir as respostas, Luciana pegou meu olhar pelas mãos e o
fez pousar nas capas disponíveis para meu celular. Deixei-me levar para onde ela
queria. Mas meu olhar insistia em fugir e rápido pousou numa estranha
capa: preta, maior do que as outras. Perguntei: e essa capa, será que
cabe no meu celular? Luciana diz: não é bem uma capa, é uma bateria
suplementar e com certeza cabe no seu celular. Ah, é? interroguei
incrédula. Luciana ágil no gatilho mostrou-me rapidinho como a coisa
funcionava. John Wayne não seria mais ágil do que Luciana. Instalada a
traquitana no meu celular, Luciana dispara mais uma: todo mundo precisa
de uma bateria suplementar! Tomo a observação no sentido existencial e
do alto das reflexões profundas que me acometeram, pergunto de novo
incrédula: você acha? Luciana no gatilho: claro! A gente vive sem
bateria! Lancei-me de novo nas profundezas da reflexão. Que paradoxo
estranho, se a gente vive sem bateria, para que a bateria suplementar?
Saí da loja sem comprar nem entender nada. Luciana me deu seu cartão de
visitas. Guardei-o na bolsa e fui para o estacionamento onde havia
deixado meu carro. Depois de catar a chave do carro na bolsa e com
dificuldade encontra-la, coloco-a na ignição. Nhammm nhamm nhamm! O
carro não pega! Não liga, mastiga! Alguém de longe grita: é a bateria,
morreu! Caramba! Retroativamente dei-me conta de que Luciana era um
óraculo, traçou-me um destino! Mesmo sem ter compreendido o traçado
feito pelo oráculo, eu o cumpri! Uma bateria suplementar! Era isso! Todo
mundo precisa! O carro, nós, o celular! Luciana, o oráculo!
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