quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Luciana, o oráculo

Na saída do médico, resolvi dar uma volta. Tireóide nos trinks, bora bater uma  coxa por aí. Parei numa loja de capa de celular, tabletes e afins. Deixei vaguear o olhar. Logo aproximou-se de mim a simpática vendedora, Luciana. Perguntou meu nome, o tipo do meu celular e do meu tablete. Ao ouvir as respostas, Luciana pegou meu olhar pelas mãos e o fez pousar nas capas disponíveis para meu celular. Deixei-me levar para onde ela queria. Mas meu olhar insistia em fugir e rápido pousou numa estranha capa: preta, maior do que as outras. Perguntei: e essa capa, será que cabe no meu celular? Luciana diz: não é bem uma capa, é uma bateria suplementar e com certeza cabe no seu celular. Ah, é? interroguei incrédula. Luciana ágil no gatilho mostrou-me rapidinho como a coisa funcionava. John Wayne não seria mais ágil do que Luciana. Instalada a traquitana no meu celular, Luciana dispara mais uma: todo mundo precisa de uma bateria suplementar! Tomo a observação no sentido existencial e do alto das reflexões profundas que me acometeram, pergunto de novo incrédula: você acha? Luciana no gatilho: claro! A gente vive sem bateria! Lancei-me de novo nas profundezas da reflexão. Que paradoxo estranho, se a gente vive sem bateria, para que a bateria suplementar? Saí da loja sem comprar nem entender nada. Luciana me deu seu cartão de visitas. Guardei-o na bolsa e fui para o estacionamento onde havia deixado meu carro. Depois de catar a chave do carro na bolsa e com dificuldade encontra-la, coloco-a na ignição. Nhammm nhamm nhamm! O carro não pega! Não liga, mastiga! Alguém de longe grita: é a bateria, morreu! Caramba! Retroativamente dei-me conta de que Luciana era um óraculo, traçou-me um destino! Mesmo sem ter compreendido o traçado feito pelo oráculo, eu o cumpri! Uma bateria suplementar! Era isso! Todo mundo precisa! O carro, nós, o celular! Luciana, o oráculo!

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