Lancaster, maio de 2009.
Lá fui eu hoje pela manhã em busca do curso de inglês, no centro da
cidade. O céu estava azul e havia um terrível vento gelado que não
deixava o sol aquecer nada nem ninguém. Peguei o ônibus na Universidade
com meu return ticket - que dá um desconto considerável no bilhete. O
ônibus seguia pelas ladeiras do caminho e ia parando a cada bus stop. Eu
estava sentada bem na frente, perto do motorista, para que ele pudesse
me avisar quando chegasse o meu lugar de destino. Notei que aquele banco
onde eu estava sentada era destinado a pessoas idosoas. Assim que o
ônibus parou no primeiro ponto, entrou um velhinho. E, embora só eu
estivesse no ônibus naquele momento, achei por bem deixar vago aquele
banco e rapidamente pulei para um outro assento. Sábia decisão! O ônibus
seguia, subindo e descendo ladeiras, e a cada parada mais e mais
velhinhos entravam! Alguns se conheciam e diziam: Nice morning! Good to
see you! Após algum tempo, resolvi fazer as contas: havia 16 velhinhos
no ônibus ! Eu e 16 velhinhos!! Eles eram bonitinhos, todos meio
gordinhos, super agasalhados, cabelos de algodão completamente
despenteados! Compreensível, já que fora do ônibus o vento soprava
impiedoso e remexia furiosamente aqueles leves flocos de algodão que
eles tinham na cabeça. Eu sabia que logo estaria na rua, com meus cinco
fios de cabelos de Cebolinha arrepiados e embolados, já que o malvado
vento não poupa ninguém, não faz distinções e a todos ataca! Pensei :
estes velhinhos de cabelos de algodão são na verdade velhinhos de
pelúcia que falam, conversam e têm vida! Só pode ser isso, eles são de
pelúcia e eu devo estar fazendo parte de algum filme como Toy Story! Com
esta certeza na cabeça, segui adiante, olhando a paisagem, ouvindo aqui
e ali o que os velhinhos diziam. Chegou o lugar onde eu devia saltar,
silenciosamente me despedi dos alegres velhinhos de pelúcia e entreguei
ao vento os meus cinco fios de cabelo!
Entrei no lugar onde havia o curso de inglês: The White Cross Centre.
Ali, no meio daqueles lindos prédios de tijolinhos, o vento era ainda
mais forte. Coloquei um cachecol - indispensável nestes dias de alto
verão! Quanto aos cabelos, larguei-os ao vento. Depois de andar para lá e
para cá, entrando em prédios e saindo deles, finalmente cheguei ao
Adult Centre Learning. Lá falei com uma jovem e simpática recepcionista
que me informou que os cursos de inglès começarão em agosto! Ah, fiquei
desolada! Mas, tudo bem, segui adiante, furei mais uma vez aquele vento e
fui, sem nenhuma dúvida, por ele atacada e derrotada, já que minhas
mãos congelavam e o meu nariz parecia não mais me pertencer. Resolvi dar
umas voltas pelo centro da cidade e heroicamente segui até lá a pé.
Andei um pouco e entrei numa loja para comprar shampoo. Sim, depois de
tanto notar os cabelos voando, resolvi que era hora de comprar um bom
shampoo! Entrei numa loja especializada nisso e uma atendente lançou um
rapidissimo olhar para mim e logo me disse: Vocè precisa de um shampoo
para cabelos finos! Olhei para ela, na dúvida: o que? é um eufemismo? tá
me chamando de careca? E ela seguia falando, que tinha este shampoo que
combinado com aquele mousse vai dar forma e volume ao cabelo. E eu: o
que? então tá dizendo que eu estou descabelada? que meu cabelo não tem
volume? alguém fica penteado com este vento que sopra aí fora?? vão
distribuir mousse para modelar os cabelos dos velhinhos também? hein?
isso devia ser uma questão de política pública aqui!
No final das contas ela me convenceu: saí de lá com 3 produtos
diferentes, tudo para cabelos finos, para dar volume, para dar forma!
Não creio que nada disso vá vencer o efeito do vento, mas a atendente
era boa vendedora e eu saí da loja realmente contente de ter feito
aquilo por mim! Pensei que na próxima vez que eu entrar naquele filme de
Toy Story vou avisar aos velhinhos de pelúcia que no centro da cidade
tem uma loja especializada em shampoos e que a atendente sabe dizer como
combinar shampoos, mousses, cremes e mais uma infinidade de coisas que
dão volume, ajeitam o cabelo, enfim, que superam de longe o poder
desordenador do vento!
Peguei de volta o ônibus e voltei para a Universidade, subindo e
descendo ladeiras, sentada num banco onde batia sol. Sigo o dia, me
preparando para estudar, ouvindo o barulho do vento nas folhas das
árvores.
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