28
de julho de 2015.
Esta noite o corpo quis acordar antes da hora.
Era madrugada ainda quando despertei. Fiquei na cama fingindo que
dormia, quem sabe me enganava e acabava dormindo. Não me enganei,
segui enroscada nas mantas, protegendo-me desse generoso inverno
carioca enquanto me dedicava a atentar aos sons da madrugada. Embora
o silêncio dominasse a cena, longe, bem longe era possível ouvir um
latido ou outro dos cachorros. Latidos breves, tive a impressão de
que não se comunicavam. Havia os graves e fortes e os agudos e
ligeirinhos. Logo notei que na madrugada os cães ladram, dos grandes
aos pequenos, eles ladram. Os sons vinham de bem longe, pareciam-me
até que os cachorros estavam em outro bairro, outra cidade, não
sei. Aliás, da cidade mesmo não ouvia nada, puro silêncio.
Lembrei-me, mais uma vez, que a noite era de inverno. Se fosse noite
chuvosa haveria o barulho das pererecas, que cantam alto e em
sinfonia sempre que chove. Se fosse noite de verão haveria grilos.
Mas não havia nem pererecas, nem grilos, apenas cães e um gato
perdido que deu um uivo para não esquecermos que pela rua há
felinos em ação. Assim passei as horas da madrugada, colhendo sons.
Após algum tempo, começo a ouvir passarinhos, cantos variados, um
após o outro iam tecendo a manhã, deixando para trás a madrugada.
Detive-me nos cantos: alegres, bonitos, pareciam bordar a manhã que
ia chegando. Em seguida, ainda sob o ritmo dos passarinhos, comecei a
ouvir a cidade, esse bicho vivo, cheio de ruídos. Daqui de casa os
sons da cidade são distantes, ouve-se uma vibração, mais do que um
som específico. No primeiro plano a música dos passarinhos, no
fundo, uma vibração dizia que as pessoas saiam de casa rumo a suas
vidas diurnas. Logo irei me juntar a elas, pensei. E foi o que fiz,
não sem antes cantar com os passarinhos.
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