quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Da série bichos em casa: sons na madrugada


28 de julho de 2015.

Esta noite o corpo quis acordar antes da hora. Era madrugada ainda quando despertei. Fiquei na cama fingindo que dormia, quem sabe me enganava e acabava dormindo. Não me enganei, segui enroscada nas mantas, protegendo-me desse generoso inverno carioca enquanto me dedicava a atentar aos sons da madrugada. Embora o silêncio dominasse a cena, longe, bem longe era possível ouvir um latido ou outro dos cachorros. Latidos breves, tive a impressão de que não se comunicavam. Havia os graves e fortes e os agudos e ligeirinhos. Logo notei que na madrugada os cães ladram, dos grandes aos pequenos, eles ladram. Os sons vinham de bem longe, pareciam-me até que os cachorros estavam em outro bairro, outra cidade, não sei. Aliás, da cidade mesmo não ouvia nada, puro silêncio. Lembrei-me, mais uma vez, que a noite era de inverno. Se fosse noite chuvosa haveria o barulho das pererecas, que cantam alto e em sinfonia sempre que chove. Se fosse noite de verão haveria grilos. Mas não havia nem pererecas, nem grilos, apenas cães e um gato perdido que deu um uivo para não esquecermos que pela rua há felinos em ação. Assim passei as horas da madrugada, colhendo sons. Após algum tempo, começo a ouvir passarinhos, cantos variados, um após o outro iam tecendo a manhã, deixando para trás a madrugada. Detive-me nos cantos: alegres, bonitos, pareciam bordar a manhã que ia chegando. Em seguida, ainda sob o ritmo dos passarinhos, comecei a ouvir a cidade, esse bicho vivo, cheio de ruídos. Daqui de casa os sons da cidade são distantes, ouve-se uma vibração, mais do que um som específico. No primeiro plano a música dos passarinhos, no fundo, uma vibração dizia que as pessoas saiam de casa rumo a suas vidas diurnas. Logo irei me juntar a elas, pensei. E foi o que fiz, não sem antes cantar com os passarinhos.

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