quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Porque eu brinco

Hoje em dia a pressa é uma das coisas que mais me cansa. Que exaustão só de pensar em sair correndo de casa, olhar o relógio várias vezes, comer correndo, ir de um compromisso a outro. Uma exaustão. Tenho andado em busca de lentidão, já falei desse assunto em outros momentos. Talvez por isso me veio à lembrança uma história, dessas de "era uma vez". Pois bem. Era uma vez uma mãe super apressada, sempre olhando o relógio, a vida era um corre-corre danado. Vez ou outra ela até cantava com Rita Lee: "o ano passado passou tão apressado, eu sei, foi um corre-corre danado, o ano inteiro eu passei sem dinheiro..." Não era mal-humorada, era apressada! O filho era pequeno, devia ter uns seis anos, por aí. O garoto entrava no banho e ficava, ficava, ficava. Era uma demora sem fim, pelo menos aos olhos da mãe. Todo dia uma correria, o horário da van, o almoço, a escola, arruma o garoto, o uniforme, a mochila, o lanche, enfim, tudo isso, mais o trabalho dela, a pasta, as aulas, a papelada, a casa, o supermercado! Uma correria. Num desses dias em que o garoto se esbaldava no banho - tempos idos, havia água! - a mãe começa: olha a hora, hein!! Anda logo nesse banho!! Um segundo depois, seguia: Terminou? A hora, olha a hora!! A van vai passar aqui em casa e você não está pronto, cacildis! E foi nessa urgência que a mãe virou-se para o menino e perguntou: Garoto por que você demora tanto tanto nesse banho? Hein? Por que? E ele alegre, cheio de graça e leveza, abre um sorriso e diz: porque eu brinco! Hoje, vinte anos depois, quando me pedem pressa, eu digo baixinho, com um sorriso nos lábios, na minha lentidão recém aprendida: porque eu brinco!

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